Resenha- A Morte do Leiteiro (Carlos Drummond de Andrade) Noturno Resumido (Murilo Mendes) PDF

Title Resenha- A Morte do Leiteiro (Carlos Drummond de Andrade) Noturno Resumido (Murilo Mendes)
Author Efraim Igor Rocha
Course Língua Portuguesa
Institution Universidade do Estado de Minas Gerais
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Summary

Resenha dos poemas A Morte do Leiteiro (Carlos Drummond de Andrade) Noturno Resumido (Murilo Mendes)...


Description

1) Escolha um poema de Carlos Drummond de Andrade, que não seja do livro “Alguma poesia”, e escreva um comentário sobre ele. Escolha um poema de Murilo Mendes, que não seja do livro “As metamorfoses”, e escreva um comentário sobre ele. Carlos Drummond de Andrade – poema escolhido: “Morte do leiteiro” ANDRADE. Carlos Drummond de. 1902-1987. Antologia poética. Editora Record. Rio de Janeiro. 2010. A morte do leiteiro (para Cyro Novaes) Há pouco leite no país, é preciso entregá-lo cedo. Há muita sede no país, é preciso entregá-lo cedo. Há no país uma legenda, que ladrão se mata com tiro. Então o moço que é leiteiro de madrugada com sua lata sai correndo e distribuindo leite bom para gente ruim. Sua lata, suas garrafas e seus sapatos de borracha vão dizendo aos homens no sono que alguém acordou cedinho e veio do último subúrbio trazer o leite mais frio e mais alvo da melhor vaca para todos criarem força na luta brava da cidade. Na mão a garrafa branca não tem tempo de dizer as coisas que lhe atribuo nem o moço leiteiro ignaro, morados na Rua Namur, empregado no entreposto, com 21 anos de idade, sabe lá o que seja impulso de humana compreensão. E já que tem pressa, o corpo vai deixando à beira das casas uma apenas mercadoria. E como a porta dos fundos também escondesse gente que aspira ao pouco de leite disponível em nosso tempo, avancemos por esse beco, peguemos o corredor,

depositemos o litro… Sem fazer barulho, é claro, que barulho nada resolve. Meu leiteiro tão sutil de passo maneiro e leve, antes desliza que marcha. É certo que algum rumor sempre se faz: passo errado, vaso de flor no caminho, cão latindo por princípio, ou um gato quizilento. E há sempre um senhor que acorda, resmunga e torna a dormir. Mas este acordou em pânico (ladrões infestam o bairro), não quis saber de mais nada. O revólver da gaveta saltou para sua mão. Ladrão? se pega com tiro. Os tiros na madrugada liquidaram meu leiteiro. Se era noivo, se era virgem, se era alegre, se era bom, não sei, é tarde para saber. Mas o homem perdeu o sono de todo, e foge pra rua. Meu Deus, matei um inocente. Bala que mata gatuno também serve pra furtar a vida de nosso irmão. Quem quiser que chame médico, polícia não bota a mão neste filho de meu pai. Está salva a propriedade. A noite geral prossegue, a manhã custa a chegar, mas o leiteiro estatelado, ao relento, perdeu a pressa que tinha. Da garrafa estilhaçada, no ladrilho já sereno escorre uma coisa espessa que é leite, sangue… não sei. Por entre objetos confusos, mal redimidos da noite, duas cores se procuram, suavemente se tocam, amorosamente se enlaçam,

formando um terceiro tom a que chamamos aurora. [A rosa do povo]

Drummond assim como outros grandes outros escritores nacionais como Castro Alves e Graciliano Ramos possui a incrível capacidade de retratar a cultura e o comportamento do brasileiro de forma atemporal. Nesse, assim como muitos outros, o poema nos traz a reflexão a respeito da forma como a morte e o desdém para os mais pobres é uma chaga crônica brasileira. Em destaque (amarelo) estão alguns excertos e frases que podem ilustrar o caráter atemporal das palavras do poeta. Somos apresentados ao protagonista dessa curta história, o leiteiro. Sem nome, sem muitas características físicas descritas. Essa falta de informação é proposital, já que Drummond quis demonstrar o aspecto anônimo que muitos sujeitos possuem dentro de nossa sociedade. Aquele sujeito que precisa acordar de madrugada, quando todo o resto está dormindo para ter seu sustento. (de madrugada com sua lata; alguém acordou cedinho) O leiteiro pode ser qualquer um de nós...pobres, no caso. Essa reflexão pode ser interpretada através do verso que diz: Há muita sede no país. Essa s3ede pode ser a sede de água, ou a própria sede de leite, porém, numa segunda leitura do poema por inteiro, conseguimos reinterpreta-lo de acordo com o contexto da curta história relatada. Essa sede parece, ser a sede de uma melhora na qualidade de vida do cidadão, isso em muitos aspectos, já que o autor usa da palavra “pais” demonstrando um certo descontentamento “nacional” a respeito da situação à época. Podemos trazer esses discursos para o presente, onde no país, em tempos de pandemia, vemos que muitas pessoas sentem “sede” e diversas coisas básicas para a sobrevivência e manutenção digna de vida. A população mais pobre parece ser descrita de forma pontual pelas palavras de Drummond – temos um reflexo de um abandono do direito a vida do pobre. Esse discurso ganha força nos versos: Há no país uma legenda, que ladrão se mata com tiro.; Ladrão? se pega com tiro. Não é novidade no Brasil a máxima que “ladrão bom é ladrão morto” – palavras que até mesmo o presidente da república parece ter como uma de suas favoritas. Essa maléfica máxima já difundida na cultura do brasileiro médio faz vítimas diárias, onde sua grande maioria é daqueles que

se encontram em nossas minorias sociais, como os negros e os de classe baixa. Tais sujeitos parecem carregam um “alvo” nas costas – as vítimas de crimes e violências barbaras são cronicamente culpados no país. A quantidade de injustiças sociais e crimes bárbaros resulta justamente nesse aspecto anônimo dessas vítimas onde: Se era noivo, se era virgem, se era alegre, se era bom, não sei. O que parece importar é a sagrada proteção da “ordem” – ordem essa que parece proteger apenas os sujeitos poderosos e pertencentes as classes sociais e étnicas mais “valorizadas” socialmente (Está salva a propriedade.). Não importa quem seja: Bala que mata gatuno também serve pra furtar a vida de nosso irmão. Estes versos de Carlos Drummond de Andrade são atuais. Isso não é nada bom. Mostra que como sociedade não avançamos nem um pouco em aspectos importantíssimos para o país como um todo. A falta de consideração e politicas publicas emergenciais resulta em uma normatização da violência para com os marginalizados na cultura brasileira, nos afastando cada vez mais a sensibilidade para com a vida do próximo: escorre uma coisa espessa que é leite, sangue… não sei.

Murilo Mendes – poema escolhido: “Noturno Resumido” MENDES. Murilo. Poemas. 1930 Fonte: https://www.poesiaprimata.com/murilo-mendes/murilo-mendes-poemas-1930/

Noturno Resumido A noite suspende na bruta mão que trabalhou no circo das idades anteriores as casas que o pessoal dorme comportadinho atravessado na cama comprada no turco a prestações. A lua e os manifestos da arte moderna brigam no poema em branco. A vizinha sestrosa da janela em frente tem na vida um camarada que se atirou dum quinto andar. Todos têm a vidinha deles.

As namoradas não namoram mais porque nós agora somos civilizados, andamos no automóvel gostoso pensando no cubismo. A noite é uma soma de sambas que eu ando ouvindo há muitos anos. O tinteiro caindo me suja os dedos e me aborrece tanto: não posso escrever a obra-prima que todos esperam do meu talento

Noturno Resumido é um dos poemas mais interessantes do primeiro livro de Murilo Mendes. Nele estão alguns retratos da vida dos mineiros de Juiz de Fora, local em qual passou parte de sua vida. O poema em questão foi escolhido por se assemelhar com alguns dos textos dos poetas beats norte-americanos, ao qual Mendes é contemporâneo. As semelhanças vão desde ambientação noturna bem como suas cosntantes referencias a arte. Outro ponto em comum é a melancolia sobre si mesmo - não posso escrever a obra-prima; que todos esperam do meu talento – é uma situação de auto avaliação (no caso negativa) da capacidade artística própria. Muitos dos autores da geração beat também possuíam esse questionamento interno a respeito de sua genialidade versus sua produção....


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