Fichamento - História social da criança e da família PDF

Title Fichamento - História social da criança e da família
Author Vic Tor Reis
Course Fundamento de História
Institution Universidade do Estado da Bahia
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Fichamento do livro de Philippe Ariès...


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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS X COLEGIADO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA Fichamento: ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Tradução de Dora Flaksman. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986. Victor Reis dos Santos1

Prefácio “Após os debates contemporâneos sobre a criança, a família, a juventude, e após o uso que foi feito de meu livro, vejo melhor, ou seja, de uma forma mais nítida e mais simplificada, as teses que me foram inspiradas por um diálogo com as coisas” (p.09). “A primeira refere-se inicialmente à nossa velha sociedade tradicional. Afirmei que essa sociedade via mal a criança, e pior ainda o adolescente. A duração da infância era reduzida a seu período mais frágil, enquanto o filhote do homem ainda não conseguia bastar-se; a criança então, mal adquiria algum desembaraço físico, era logo misturada aos adultos, e partilhava de seus trabalhos e jogos” (p.10)

“A transmissão dos valores e dos conhecimentos, e de modo mais geral, a socialização da criança, não eram, portanto, nem asseguradas nem controladas pela família.[...] A criança aprendia as coisas que devia saber ajudando os adultos” (p.10) Incialmente, em seu prefácio, Philippe Ariès relata como que, após a primeira publicação de seu livro e dos debates que surgiram desde então sobre a infância e a juventude, ele teve uma visão mais profunda e nítida acerca de suas ideias. Assim, ele divide as ideias principais deste livro em duas teses. A primeira delas diz respeito à sociedade tradicional da idade média e de seu entendimento (ou melhor, a falta dele) sobre as etapas da infância e da adolescência. Segundo o autor, nesta sociedade tradicional a criança recebia cuidados por poucos anos, apenas no seu período mais frágil, até o momento em que ela pudesse realizar a maioria das atividades cotidianas sozinha, sem a ajuda de um adulto. Deste momento em diante ela seria inserida no mundo dos adultos, convivendo com estes e trabalhando como um “adulto em miniatura”. Não havia também um processo de educação ou socialização das crianças claramente definido e assegurado pelos pais ou sociedade, sendo os valores e conhecimentos considerados importantes transmitidos através da inserção da criança no trabalho e no mundo dos adultos, onde ela aprenderia tudo o que precisava saber por meio da ação, da prática e do trabalho manual. 1 Graduando do curso de Licenciatura em História do Campus - X da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. E-mail: [email protected]

“A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato. Quando ela conseguia superar os primeiros perigos e sobreviver ao tempo da paparicação, era comum que passasse a viver em outra casa que não a de sua família.” (p. 10) “Essa família se compunha do casal e das crianças que ficavam em casa: não acredito que a família extensa (composta de várias gerações ou vários grupos colaterais) jamais tenha existido.” (p. 10) “Essa família antiga tinha por missão – sentida por todos – a conservação dos bens, a prática comum de um ofício, a ajuda mútua quotidiana num mundo em que um homem, e mais ainda uma mulher isolados não podiam sobreviver”. (p. 10) “Ela não tinha função afetiva. [...] o sentimento entre os cônjuges, entre os pais e os filhos, não era necessário à existência nem ao equilíbrio da família: se ele existisse, tanto melhor.” (p. 11) As trocas afetivas e as comunicações sociais eram realizadas portanto fora da família, num “meio” muito denso e quente, composto de vizinhos, amigos, amos e criados, crianças e velhos, mulheres e homens, em que a inclinação se podia manifestar mais livremente. As famílias conjugais se diluíam nesse meio. (p. 11)

Em seguida, Ariès faz uma abordagem acerca dos arranjos familiares que existiam nesta sociedade tradicional, na qual a criança não tinha um papel de destaque, sendo muitas vezes vista como algo substituível, vivendo praticamente em um anonimato. Segundo o autor, ao contrário do que alguns pensadores acreditavam, esta família tradicional do período medieval europeu era composta apenas pelos pais e pelos filhos. Ainda mais, para a esta família nuclear, sua principal função era garantir a sobrevivência material de seus integrantes, a manutenção de suas posses e bens, o trabalho em comum de uma mesma profissão, ou seja, uma ajuda mútua em um contexto onde era extremamente difícil a vida de indivíduos que vivessem isolados, e não necessariamente o sentimento e o afeto entre pais e filhos, cônjuges ou parentes mais próximos. Dessa forma, o afeto não era necessário ou fundamental para a existência da família, mas isso não significa que ela não existisse, mas que apenas não imprescindível. Segundo o autor, o afeto era adquirido e expresso em outros meios fora do ambiente privado, em um ambiente formado pelos vizinhos da aldeia ou os que viviam mais próximos na cidade, os criados, etc., fazendo com que a família se misturasse neste meio. “A segunda (tese) pretende mostrar o novo lugar assumido pela criança e a família em nossas sociedades industriais. A partir de um certo período [...] uma mudança considerável alterou o estado de coisas que acabo de analisar.” (p.11)

“A escola substituiu a aprendizagem como meio de educação. Isso quer dizer que a criança deixou de ser misturada aos adultos e de aprender a vida diretamente, através do contato com eles. [...] a criança foi separada dos adultos e mantida à distância numa espécie de quarentena, antes de ser solta no mundo. Essa quarentena foi a escola, o colégio.” (p.11)

“Essa separação, e essa chamada à razão, das crianças deve ser interpretada como uma das faces do grande movimento de moralização dos homens promovido pelos reformadores católicos ou protestantes ligados à Igreja, às leis ou ao Estado.” (p.11) Em sua segunda tese o autor já demonstra como a criança e a família tomaram novas formas e lugares nas sociedades capitalistas industriais. Segundo ele, a infância passou a ser entendida como uma etapa de extrema importância da vida humana, com características e necessidades próprias, ao contrário do “adulto em miniatura” da idade média que, assim que dava seus primeiros passos, já era tratado com “igualdade” e obrigado a conviver e trabalhar com os adultos. Também de acordo com Ariès, essa mudança se deu a partir do final do século XVII com o movimento de moralização dos homens realizado pelos reformadores morais. Desta forma, a educação (mais especificamente a escolar) toma um papel importante nesta moralização e a criança passa a ser isolada do mundo adulto, separada por grandes períodos do convívio com os pais, vivendo com outras crianças da sua idade, mas ainda assim sob supervisão dos adultos (professores, diretores, funcionários). Além disso, a criança deixa de aprender por meio do convívio direto com os adultos, com o trabalho e com as atividades práticas, e conhece o mundo por meio da transmissão de saberes feita pelos professores, isolada das atividades próprias dos adultos. “[...] esta é a segunda abordagem do fenômeno que eu gostaria de sublinhar. A família tornou-se o lugar de uma afeição necessária entre os cônjuges e entre os pais e filhos, algo que ela não era antes.” (p. 11) “Tratava-se de um sentimento inteiramente novo: os pais se interessavam pelos estudos de seus filhos e os acompanhavam com uma solicitude habitual nos séculos XIX e XX, mas outrora desconhecida.” (p. 12) A família começou então a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma tal importância, que a criança saiu de seu antigo anonimato, que se tornou impossível perde-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pôde mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar dela. (p.12)

“A consequência disso tudo – que ultrapassa o período estudado neste livro, mas que desenvolvi em outro estudo – foi a polarização da vida social no século XIX em torno da família e da profissão, e o desaparecimento da antiga sociabilidade.” (p. 12)

Neste ponto, Philippe aborda as transformações pelas quais passaram a família na atual sociedade capitalista, dentre elas a necessidade de afeto entre os seus membros, o que não havia antes. Isso pode ser observado na atenção e cuidados que os pais passaram a dar para suas crianças, demonstrando um interesse principalmente pela sua educação. Isso fez com que a criança se tornasse um membro importante na família, onde sua perda era sentida com muito sofrimento devido ao afeto e o cuidado direcionado a ela, pois não mais era possível reproduzi-la, levando à consequente limitação do número de nascimentos para possibilitar uma atenção maior aos filhos. Por conta disso, o autor afirma que estas transformações levaram a polarização entre a família e a profissão e ao fim da antiga sociabilidade. “Se minha segunda tese encontrou uma acolhida quase unânime, a primeira (a ausência do sentimento de infância na Idade Média) foi recebida com mais reserva pelos historiadores” (p. 14). “Os historiadores demógrafos reconheceram a indiferença que persistiu até muito tarde com relação às crianças, e os historiadores das mentalidades perceberam a raridade das alusões às crianças e às suas mortes nos diários de família” (p. 14). J. L. Flandrin 2 criticou uma preocupação muito grande de minha parte, com o problema da origem, que me leva a denunciar uma inovação absoluta onde haveria antes uma mudança de natureza. O exemplo dado por ele é bom: se a arte medieval representava a criança como um homem em escala reduzida, “isso se prendia não à existência (ou ausência), mas à natureza do sentimento de infância”. A criança era, portanto diferente do homem, mas apenas no tamanho e na força, enquanto em outras características permaneciam iguais. (p. 14). A outra crítica é de N. Z. Davis 3. Seu argumento é mais ou menos o seguinte: como pude eu sustentar que a sociedade tradicional confundia as crianças e os jovens com os adultos, ignorando o conceito de juventude, se a juventude desempenhava nas comunidades rurais e também nas urbanas um papel permanente de organização das festas e dos jogos, de controle dos casamentos e das relações sexuais, sancionado pelos charivaris? (p. 15).

Philippe Ariès passa então a discutir algumas críticas feitas sobre sua obra, ponderando algumas observações. Segundo ele, sua primeira tese, (a de que não havia um sentimento ou ideia de infância durante a Idade Média) encontrou dificuldades para ser aceita pelos historiadores. Alguns grupos que trabalhavam com a História a partir da demografia concordaram com o anonimato no qual a criança vivia durante a Idade Média, e outros que estudavam a História das mentalidades reconheceram também esta mesma observação do autor.

2 J. L. Flandrin, “Enfance et société”, Annales ESC 19, 1964, pp. 322-329. 3 N. Z. Davis, “The Reasons of Misrule: Youth Groups and Charivaris on Sixteenth Century France”, Past and Present 50, Fevereiro de 1971, pp. 41-75.

Todavia, algumas críticas foram feitas, dentre elas o autor deu destaque para duas: a primeira, de Flandrin, diz respeito à preocupação excessiva de Ariès em relação a origem de sua segunda tese (A concepção de infância que surge na modernidade), que leva-o a imaginar uma transformação completa, uma inovação absoluta, quando na verdade se trata de uma mudança de natureza, de conteúdo, não do surgimento do sentimento de infância em si. A segunda crítica, feita por Davis, questiona a confusão que havia durante a Idade Média das crianças e jovens com os adultos, ignorando o fato de que a juventude exercia papeis específicos nestas sociedades, como organização de festas, jogos, etc., ou seja, havia um entendimento sobre a juventude. Ao longo do prefácio Philippe Ariès irá abordar alguns temas discutidos por outros autores que corroboram suas duas teses, como o surgimento da educação pela aprendizagem em meio aos adultos na Idade Média, o fenômeno da prática do infanticídio, como e quando as pessoas batizavam suas crianças, a representação de crianças nos túmulos, a reclusão da família para a vida privada observada através da arquitetura dos cômodos das casas e o consequente surgimento do afeto familiar, especialmente entre mãe e filhos.

Capítulo 1. O Sentimento da Infância 1 – As Idades da Vida “Um homem do século XVI ou XVII ficaria espantado com as exigências de identidade civil a que nós nos submetemos com naturalidade.” (p. 29) “Em nossas civilizações técnicas, como poderíamos esquecer a data exata de nosso nascimento, se a cada viagem temos de escrevê-la na ficha de polícia do hotel, se a cada candidatura, a cada requerimento [...] é sempre preciso recordá-la?” (p.29) Na Idade Média, o primeiro nome já fora considerado uma designação muito imprecisa, e foi necessário completá-lo por um sobrenome de família, muitas vezes um nome de lugar. Agora, tornou-se conveniente acrescentar uma nova precisão, de caráter numérico, a idade. (p. 30) A inscrição do nascimento nos registros paroquiais foi imposta aos párocos da França por Francisco I. Para que fosse respeitada, foi preciso que essa medida fosse aceita pelos costumes, que durante muito tempo se mantiveram avessos ao rigor de uma contabilidade abstrata. [...] A importância pessoal da noção de idade deve ter-se afirmado à medida que os reformadores religiosos e civis a impuseram nos documentos, começando pelas camadas mais instruídas da sociedade. (p. 30)

O autor inicia seu primeiro capítulo fazendo uma distinção entre um aspecto bastante comum para nós atualmente: a idade, ou, mais especificamente, a certeza da idade de cada pessoa. Esta informação, que hoje é indispensável para a identidade civil do indivíduo, antigamente não era percebida com exatidão.

Somente com o passar do tempo que o Estado, através principalmente do Clero, passou a exigir a anotação das datas de nascimentos nos documentos paroquiais. Apenas com um tempo maior ainda que esta noção de idade vai ser aceita e apropriada pelos costumes da população, primeiramente nas camadas mais privilegiadas da sociedade, por meio do esforço dos religiosos. “As ‘idades da vida’ ocupam um lugar importante nos tratados pseudocientíficos da Idade Média. [...] A idade do homem era uma categoria científica da mesma ordem que o peso ou a velocidade o são para nossos contemporâneos.” (pp. 33-34) “A ideia de que não havia oposição entre o natural e o sobrenatural pertencia ao mesmo tempo às crenças populares herdadas do paganismo, e a uma ciência tanto física quanto teológica.” (p. 34) “Eu diria que essa concepção rigorosa da unidade da natureza deve ser considerada responsável pelo atraso do desenvolvimento científico, muito mais do que a autoridade da Tradição, dos Antigos ou da Escritura.” (p. 34) “Uma mesma lei rigorosa rege ao mesmo tempo o movimento dos planetas, o ciclo vegetativo das estações, as relações entre os elementos, o corpo humano e seus humores, e o destino do homem.” (p. 35) Durante a Idade Média, as etapas ou idades da vida tinham um sentido diferente do que temos hoje em dia, pois para os cientistas e pensadores da época, a idade dizia respeito apenas a uma forma de mensuração da natureza (neste caso, do homem), do mesmo modo que o peso, comprimento, velocidade, etc. Isso se dá em virtude da ideia de que tanto os fenômenos naturais e humanos, quanto os sobrenaturais, pertenciam a mesma ordem de explicação, não havendo nenhuma oposição entre os mesmos. Desta forma, Ariès conclui que o “atraso científico” deste período histórico, um aspecto que é de conhecimento geral, se dá menos em função da autoridade da Igreja ou da tradição do que a visão de mundo que entende todos os fenômenos observáveis sendo regidos por uma mesma lei transcedental, ou seja, um único princínpio fundamental explica a origem da natureza, do cosmo, da vida, das estações e do homem. “As idades da vida eram também uma das formas comuns de conceber a biologia humana, em relação com as correspondências secretas internaturais.” (p. 35) “Os textos da Idade Média sobre esse tema são abundantes. [...] as idades correspondem aos planetas, em número de 7.” (p. 36) O mesmo gênero de correspondência sideral havia inspirado uma outra periodização, ligada aos 12 signos do zodíaco, relacionando assim as idades da vida com um dos temas mais populares e mais comovente da Idade Média, sobretudo gótica: as cenas do calendário. (p. 37)

Da mesma forma que os fenômenos naturais, as idades da vida mantinham uma estreita relação com os outros aspectos da vida, da natureza e do sobrenatural. Assim, alguns textos da época medieval descrevem as diferentes etapas da vida humana relacionando-as com os corpos celestes (na época, apenas sete eram conhecidos), onde cada uma tinham suas características fixas. A primeira idade, que vai do nascimento aos sete anos, se chama enfant (criança), que quer dizer não falante. A segunda se chama pueritia, pois nessa idade “a pessoa é ainda como a menina do olho, como diz Isidoro, e essa idade dura até os 14 anos” (ARIÉS, 1986, p. 36). Depois segue-se a terceira idade, a adolescência, que termina no vigésimo primeiro ano, e é assim chamada porque a pessoa é bastante grande para procriar. Após chega a juventude, que está no meio das idades, durando até os 45 anos, chamando-se assim devido à força que está na pessoa, para ajudar a si mesma e aos outros. Depois segue-se a senectude, que está a meio caminho entre a juventude e a velhice, a pessoa nessa idade é grave nos costumes e nas maneiras. Após essa idade segue-se a velhice, que dura até 70 anos e, segundo outros, não tem fim até a morte. É assim chamada porque as pessoas velhas já não têm os sentidos tão bons como já tiveram, e caducam em sua velhice. A última parte da velhice é chamada de senies em latim, mas em francês não possui outro nome além de vieillesse. O velho está sempre tossindo, escarrando e sujando, até voltar a ser a cinza da qual foi tirado. (ARIÈS, 1986, p. 37). Esta mesma periodização da vida humana inspirou outra, ligada ao calendário: as idades da vida correspondiam aos meses do ano, cujos quais tinham cada um seus aspectos específicos. “É preciso ter em mente que toda essa terminologia que hoje nos parece tão oca traduzia noções que na época eram científicas, e correspondia também a um sentimento popular e comum da vida.” (p. 38) Para o homem de outrora, ao contrário, a vida era a continuidade inevitável, cíclica, às vezes humorística ou melancólica das idades, uma continuidade inscrita na ordem geral e abstrata das coisas, mais do que na experiência real, pois poucos homens tinham o privilégio de percorrer todas essas idades naquelas épocas de grande mortalidade. (p. 39) A repetição dessas imagens alimentava a ideia de uma vida dividida em etapas bem delimitadas, correspondendo a modos de atividade, a tipos físicos, a funções, e a modas no vestir. A periodização da vida tinha a mesma fixidez que o ciclo da natureza ou a organização da sociedade. (p. 40)

Aqui o autor faz uma observação acerca das diferenças de mentalidade que existem entre o Homem da Idade Média e o Homem atual. Para nós, estas ideias podem não fazer sentido, mas para as pessoas dessa época havia um sentimento comum de que a vida humana estava inscrita na mesma ordem natural do mundo. As idades formavam a continuidade cíclica da vida, assim como as estações ou os meses do ano, na qual cada uma destas etapas tinha suas características, funções, atribuições.

Da especulação antigo-medieval restara uma abundante terminologia das idades. No século XVI, quando se decidiu traduzir essa terminologia para o francês, ficou patente que esta língua, e portanto os costumes franceses, não dispunham de tantas palavras como o latim, ou ao menos como o latim clássico. (p. 41)

“Há maior dificuldade em francês do que em latim, pois em latim existem sete idades nomeadas por sete nomes diversos [tantas quanto os planetas], dos quais existem apenas três em francês: a saber, enfance, jeunesse e vieillesse.” (p. 41) “Observamos que, como juventude significava força da idade, ‘idade média’, não havia lugar para a adolescência. Até o século XVIII, a adolescência foi confundida com a infância.” (p. 41) Ariès demonstra que, já na modernidade, quando se tentou traduzir os termos das idades em latim para o francês, surgiu certa dificuldad...


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