Resenha Privacidade Hackeada PDF

Title Resenha Privacidade Hackeada
Course Cobertura Jornalística e Redação IV
Institution Universidade do Estado de Minas Gerais
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Resenha sobre o documentário Privacidade hackeada....


Description

RESUMO CRÍTICO DOCUMENTÁRIO: PRIVACIDADE HACKEADA

O documentário Privacidade Hackeada- Nada é privado: o escândalo da Cambridge Analytica dos diretores Karim Amer e Jehane Noujaim produzido e exibido pela Netflix trata acerca do escândalo sobre o uso de dados coletados em redes sociais pela Cambridge Analytica, sem o consentimento de seus usuários. O documentário foi exibido pela primeira vez durante o Festival de Cinema de Sundance de 2019, e foi divulgado na campanha presidencial dos Estados Unidos (EUA). O trailer foi lançado no YouTube e garantiu em poucas horas mais de 1 milhão de visualizações. O longa é narrado pelos pontos de vista da jornalista Carole Cadwalladr, que investigou o escândalo e expôs na mídia; o professor David Carroll um cidadão comum que usou da justiça para descobrir quais dados pessoais seus foram compartilhados pelo Facebook sem sua autorização; e Brittany Keiser, a profissional que trabalhou na campanha de Obama e esteve no centro da divulgação do escândalo da empresa Cambridge Analytica(CA). O filme retrata o uso de dados pessoais e privados de assinantes do Facebook com o intuito de manipular e influenciar eleitores nos EUA e Inglaterra, colaborando assim para a eleição de Donald Trump e para a votação do Brexit, o que ocasionou na saída da Inglaterra da União Europeia. Este destaca ainda os testes realizados pela CA em pequenos países, antes da sua aplicação nos EUA e Inglaterra no qual os dados pessoais e o perfil das pessoas no Facebook eram analisados, e através destes era possível determinar os “persuasíveis”, aqueles que ainda não haviam decidido de quem seria seu voto na eleição. Dessa forma a empresa trabalhava em cima desses eleitores entupindo-os de fake news para fazê-los votar contra ou a favor de determinado candidato. Todo esse quadro é retratado de modo envolvente, com uma montagem fluida que alterna entre depoimentos, vídeos jornalísticos, efeitos bem colocados, e uma ótima trilha sonora, que transmite emoção e suspense. O documentário deixa algumas conclusões a cargo do espectador como por exemplo, quando não explica a estranha e contraditória figura de Brittany Keiser, que expõe o escândalo divulgando informações da Cambridge Analytica e desmentindo seu chefe Alexander Nex. O

documentário expõe também o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, que em depoimento tenta livrar sua empresa do envolvimento na violação de privacidade de milhares dos seus clientes. Privacidade Hackeada nos permite visualizar e aplicar claramente o estudo realizado acerca da teoria do filósofo francês Michel Foucault sobre a sociedade da disciplina e do controle, do biopoder e da vigilância. Em uma de suas obras mais influentes, Vigiar e Punir, Foucault define a sociedade da disciplina como “o olho que tudo vê” e apresenta como forma de poder o poder disciplinar. Segundo sua teoria a disciplina é uma maneira de fazer as pessoas se adequarem a uma determinada norma e ao contrário da soberania, que derruba quem não a obedece, a disciplina se baseia em outras formas de agir. De maneira mais sutil, com um cuidado requintado, a fim de produzir pessoas obedientes exerce o controle e obtém a obediência. A referida teoria pode ser aplicada na sociedade contemporânea e nos leva a refletir acerca do nosso relacionamento com as redes sociais, especialmente o Facebook bem como sobre o quanto o ser humano é facilmente manipulável. A figura do personagem Carroll que fez algo que qualquer cidadão do mundo com perfil no Facebook poderia fazer, que foi exigir que tal corporação faça jus aos seus próprios termos de segurança, nos leva a refletir sobre a apatia e inércia na qual o ser humano inserido nessa sociedade se encontra. A constatação do documentário de que não se pode viver sem as redes sociais, nos leva a refletir que é preciso estar atento e vigilante, e desconfiar de tudo veiculado nelas. É preciso temer sim, pois o medo nos deixa atentos, ideia esta que dialoga diretamente com a teoria da vigilância de Foucault que defende que a sociedade é uma prisão na qual somos constantemente vigiados. O filósofo compara a sociedade moderna ao conceito de “Panóptico”, criado pelo filósofo Jeremy Bentham, no século 19 que consiste em um modelo de prisão, no qual todas as celas são dispostas em forma circular e no meio do círculo há uma torre alta, de forma que quem esteja lá consiga ver o interior das celas. Mas, apesar de conseguir ver a torre, quem está dentro das celas não consegue perceber que está sendo vigiado ou não, devido ao modelo da janela. Com isso, os prisioneiros passam a se auto vigiar e a evitar cometer infrações porque nunca sabem se há alguém olhando ou não. Essa prisão pode ser claramente comparada as redes sociais e a falsa ideia de liberdade que essa ferramenta transmite.

O filme nos leva ainda a refletir sobre como o ser humano pode ser tão facilmente manipulável o que vai de encontro aos conceitos de Foucault sobre pessoa (pessoa física, corpo); indivíduo (núcleo do indivíduo, no qual se encontra a individualidade); sujeito (possui direitos e deveres) e cidadão(aquele que compra, consome) bem como sobre o controle exercido pelo sistema capitalista perante a sociedade. Para o filósofo esse sistema vai muito além de um de controle econômico, ele realiza um controle cognitivo, e por um lado nos individualiza através de números como CPF (cadastro de pessoa física), por outro nos generaliza e categoriza através de estilo, preferências, gostos, perfil de consumo, preferências musicais, e até gastronômicas. Acontecimentos recentes na política brasileira dialogam com a temática do documentário em análise bem como com o estudo de Foucault sobre a sociedade, já que o mesmo processo retratado no documentário em análise ocorreu no Brasil, através do Whatsapp, que por meio de fake news ajudou a eleger o atual presidente Jair Bolsonaro. Tal plataforma antes usada para aproximar e romper distâncias e barreiras físicas, passou a incitar o ódio, preconceito e ações antidemocráticas. Dessa forma pode-se concluir que as teorias e estudos de Foucault são atemporais e se aplicam perfeitamente a sociedade contemporânea colocando em xeque conceitos como privacidade, segurança e democracia e levando-nos a refletir sobre nossa responsabilidade acerca do resgate dos verdadeiros valores humanos do ser.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: DELEUZE, Gilles. Conversações. Tradução: Peter Pal Pelbart 3ª ed. São Paulo: Editora 34, 2013. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução: Raquel Ramalhete Petrópolis: 27ª ed. Editora Vozes, 1987. FONTES ELETRÔNICAS: Nada é privado: o escândalo da Cambridge Analytica, “Privacidade Hackeada”, 2019. Disponível em: ; Acesso 14 de set. 2019....


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