Resenha - QVT PDF

Title Resenha - QVT
Author William Machado
Course Psicologia Do Trabalho E Das Organizações
Institution Universidade Federal de Itajubá
Pages 7
File Size 100.2 KB
File Type PDF
Total Downloads 90
Total Views 140

Summary

Resenha sobre a qualidade de vida no trabalho...


Description

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ INSTITUTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E GESTÃO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

RESENHA – QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

ADM 075 – PSICOLOGIA

ITAJUBÁ, MAIO DE 2013 Artigo resenhado: BARROS, Sérgio Paes de. Os discursos sobre qualidade de vida para os trabalhadores enquanto mecanismos disciplinares. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 15, n. 1, p.17-32, 2012.

O tema da qualidade de vida para os trabalhadores (QVT) é amplamente discutido por autores da psicologia – não somente pelas diversas ideias, como também pelas diferentes situações cotidianas em que o tema entra em pauta. Os discursos que visam desenvolver a qualidade de vida dos trabalhadores tomaram por base análises das possibilidades histórico discursivas para que a pergunta “Como melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores?” pudesse ser respondida. O que inicialmente parece natural – resultado da evolução das práticas da gestão, a qualidade de vida dos trabalhadores não pode ser tratada como um produto de seu trabalho.Embora pareça óbvio que a luta pela qualidade de vida dos colaboradoras será sempre buscada, esta obviedade mascara os interesses ocultos das práticas gerenciais atuais e até mesmo raízes históricas controversas. A análise bibliográfica realizada neste artigo indicou a existência de três matrizes sobre o tema: Matriz Humanista, Matriz Sociotécnica e Matriz da Qualidade Total. Ademais, foram encontradas outras visões as quais, apesar de não constituírem matrizes referenciais, são críticas das propostas clássicas acerca do tema as quais as juntam no contexto de outras áreas do conhecimento. Ao pesquisar sobre programas de qualidade de vida para os trabalhadores, não se parte das indagações “como melhorar a qualidade de vida dos colaboradores da melhor forma?”

ou

“como

a

área

de

promoção

da

qualidade

de

vida

foi

desenvolvida?”.Parte-se, primeiramente, do questionamento no que tange o surgimento da demanda da preocupação com a QVT. A pesquisa sobre a qualidade de vida dos trabalhadores engloba, portanto, analisar criticamente se a preocupação com a mesma é uma tradição óbvia ou se os próprios pesquisadores colocaram-se como sujeitos da pesquisa, criando a demanda para ela ao mesmo tempo em que forneciam respostas. Após uma ampla pesquisa sobre o termo QVT, o único consenso encontrado foi no que tange sua imprecisão. Há diversidade de definições, o que desperta uma disputa semântica entre autores, os quais procuram fazer prevalecer sua definição de forma hegemônica. Contudo, mais além dessa disputa, ocorre simultaneamente uma disputa de poder (Foucault, 1997) que, por sua vez, interage na dinâmica do mercado de bens simbólicos (Bourdieu, 2005). No que concerne às publicações sobre QVT feitas no Brasil, pode-se considerar o estudo de Fernandes e Gutierrez (1988) pioneiro, em que se usou de citações estrangeiras visto que, nacionalmente, esse campo não foi devidamente explorado.

Ademais, além do que fora dito anteriormente sobre a divergência de conceitos sobre QVT, as perspectivas de análise da origem do termo QVT também causam discrepância entre os estudiosos. Por isso, no intuito de se estabelecer um consenso, os autores do artigo optaram pela análise com base nos artigos e livros mais citados na literatura nacional. De acordo com Fernandes e Gutierrez (1988), países desenvolvidos, como por exemplo Canadá, Estados Unidos da América, França, Suécia, a atenção dada à qualidade de vida dos trabalhadores aumentava devido ao que chamaram de “amadurecimento da sociedade”: “[...] um sistema integrado de compensação, elevação da segurança econdições de trabalho, maior participação por parte do empregado, liberação do potencial criativo, poder de decisão a nível do próprio cargo, retroinformação sobre o desempenho, perspectivas de crescimento e outras

tantas

coisas que não geram custos adicionais, mas se refletem de maneira decisiva na qualidadede vida do trabalhador” (FERNANDES; GUTIERREZ, 1988, p. 30).

É de extrema importância ressaltar a preocupação dos autores em estruturar, no Brasil, esse campo de estudo a fim de se conceituar e apresentar/explicar exatamente a definição de QVT para que, desse modo, essa não seja vista como uma prática passageira, ou seja, um modismo como tantos outros. Acerca dos conceitos de QVT, esse são diversos, como serão apresentados a seguir.Segundo Walton (1973), QVT caracteriza-se como sendo atos legislativos que dão o apoio necessário ao trabalhador, além do auxílio às necessidades e às aspirações humanas, embasado na ideia de humanização do trabalho e responsabilidade social da empresa. Já Bergon (1982) caracteriza QVT como sendo a aplicação efetiva de uma filosofia humanistapor meio da inserção de métodos que visam a participação dos funcionários, a fim de modificar as perspectivas existentes no ambiente de trabalho, criando nova situação que favoreça a satisfação dos funcionários. Ginzberg et al. (1979) apresenta dois conceitos que afirmam que QVT pode ser utilizado para reunir as experiências de humanização do trabalho por meio de duas perspectivas. A primeira seria a reestruturação do emprego ou a reformulação dos postos individuais de trabalho; a segunda, a estruturação de trabalho semiautogerenciados ou semiautônomos, em que é dado aos trabalhadores um determinado grau de participação (informação, consulta, codecisão).

O conceito de QVT segundo Nadler e Lawer (1983): ● 1959/1972: considerada como uma variável. Investigavam como melhorar a QVT para o indivíduo. ● 1969/1974: considerada uma abordagem. O foco vinha primeiro no indivíduo e depois no resultado organizacional. ● 1972/1975: considerada um método. Vista como técnica para tornar o trabalho mais produtivo e satisfatório. ● 1975/1980: considerada um movimento. Tratava-se da declaração ideológica da natureza do trabalho e as relações dos funcionários com a organização. ● 1979/1982: considerada tudo. Era vista como arma contra a concorrência estrangeira,

problemas

de

qualidade,

baixa

produtividade e queixas

organizacionais. ● Futuro: considerada nada. Se no futuro os projetos de QVT não forem bem sucedidos, não passará de um modismo. Porém, Silva (2001) descorda da última afirmação feita para o “futuro”. Na opinião da autora, essa possibilidade já não pode ser aplicada à realidade devido às discussões feitas atualmente. Para ela, a qualidade de vida no trabalho “hoje e no futuro” é considerada resnponsabilidade social do Estado, da Empresa, do Trabalhador e do Sindicato. Rodrigues (1999) afirma que o estudo sobre a QVT sempre foi preocupação humana, com a finalidade de tornar o trabalho menos árduo e mais satisfatório para os trabalhadores. Herzberg, McGregor e Maslow são considerados segmentos no movimento sobre QVT, pois estudavam os fatores que afloravam a motivação nos trabalhadores e os que dificultavam essa motivação. França, Bosquetti e Veloso fazem uma observação que mostra que a partir do momento em que o indivíduo busca novos métodos, técnicas e ferramentas para reduzir seu esforço e sofrimento, há o conceito de saúde atrelado ao trabalho. Vieira (1996) comenta que a rápida ascensão do movimento de QVT coincide com o auge do fordismo, ou seja, um período com muitas manifestações trabalhistas, com revindicações coletivas e expansão do movimento sindical. A origem do termo QVT surgiu em uma conferência internacional que falava especialmente de “sistemas sócio-técnicos”. Louis Davis teria criado um centro para qualidade de vida no trabalho,

mantendo contato com pesquisadores do Tavistock Institute e aplicando as ideias do instituto no Center for Quality of Working Life. Porém, a crise do petróleo fez com que as empresas se focassem na sua sobrevivência e deixassem os estudos sobre QVT, bem como os interesses dos trabalhadores, em segundo plano. Spink (2003) afirma que a teoria sociotécnicafoi associada com algumas observações, entre elas o fato de que a liberdade para se organizar no ambiente de trabalho facilita o desenvolvimento de habilidades múltiplas. Esse tipo de organização flexível propicia melhorias na qualidade de vida dos trabalhadores. A abordagem sociotécnica é a única que se debruça sobre o tema da QVT que tem seu nome vinculado à democracia industrial. Pode-se perceber que o termo QVT possui referências antes mesmo de 1980. Porém, alguns autores comentam que aparece em decorrência do modelo de qualidade total, na prática. O modelo de qualidade total surge a partir da década de 80 como instrumento de gerenciamento de produção com a finalidade de controle de processos produtivos e tecnológicos de fabricação. De acordo com Barros (2012), existe uma imprecisão também no que diz respeito à origem do termo Qualidade de Vida no Trabalho. No entanto, o autor não nega que esse termo tomou força após a década de 80, paralelamente à evolução do conceito de Qualidade Total. A Qualidade de Vida no Trabalho surge para dar apoio ao Sistema de Qualidade Total, visto que este só teria sucesso se aquele estivesse bem estruturado. Em outras palavras, um Sistema de Qualidade Total tem como premissa a Qualidade de Vida no Trabalho. Considerando que a Qualidade Total depende da Qualidade de Vida no Trabalho e esta depende do envolvimento dos funcionários como um todo, é cada vez maior a preocupação por parte dos gestores com o bem estar desses funcionários: “Os Programas de Qualidade Total exigem pessoas que saibam fazer e principalmente que queiram fazer mais e melhor, por isso precisam contar com empregados satisfeitos” (Fernandes & Gutierrez, 1988, p. 31). Dessa forma, apesar de toda incerteza quanto à sua origem, faz sentido alinhar a Qualidade de Vida no Trabalho ao Sistema de Qualidade Total, em que o aumento da produtividade e da qualidade é feito por meio do gerenciamento do ser humano. A luta dos trabalhadores tem sido restringida devido ao encolhimento do mercado de trabalho. Essa luta vem se transformando em preocupações similares às do

início do século passado, como, por exemplo, a sobrevivência.Também se percebe que a qualidade de vida do trabalhador está cada vez mais precária e desumana. A competitividade estimula a produtividade, mas não melhora a QVT. Sendo assim, as condições de trabalho e a qualidade de vida do trabalhador se “deterioram” com o tempo. A implantação da Qualidade Total nas empresas contribuiu ainda mais para que a qualidade de vida do trabalhador não tivesse o real enfoque que deveria possuir. Ao invés de se priorizar as condições e organização do trabalho, na qual as pessoas trabalham e deveriam ser orientadas para sua mudança, é priorizada a otimização da produção com, como citado anteriormente, a Qualidade Total. Logo, dever-se-ia replanejar o trabalho a fim de melhorar a condição de saúde dos trabalhadores, impactando sua qualidade de vida.Todavia, esse replanejamento poderia ter implicações, como a apropriação do conhecimento por parte da empresa a fim de se fortalecer e, ao mesmo tempo, enfraquecendo o funcionário, que se tornaria descartável. Dessa maneira, pode-se dizer que qualidade de vida no trabalho engloba a autonomia e o poda auer que os trabalhadores têm sobre o conhecimento dos processos de trabalho, incluindo, portanto, as questões da saúde organizacional. Pode-se afirmar, ainda, que esse tema é abordado, cada vez mais, em uma perspectiva abstrata, isto é, com poucas referências no cotidiano do trabalhador. Além disso, também envolve o controle da percepção e subjetividade para enquadrar os funcionários às normas e metas da empresa. O tema Qualidade de Vida no Trabalho é uma ferramenta importante para os gestores e profissionais de RH, uma vez que tratado de maneira correta aumentará a credibilidade desses. Para a melhor compreensão sobre esse assunto, existem diversas matrizes de análises, entre elas, Humanista, Sociotécnica e Qualidade Total.Uma melhora na qualidade de vida do trabalhador não deve ser feita visando apenas a parte técnica, como aumento da produtividade, assim como não se deve focar apenas o fortalecimento das relações interpessoais no trabalho. O intercâmbio entre ambas as partes gera frutos desejáveis aos cooperadores. Evita assim casos de, por exemplo, precarização do trabalho. Por fim,a sociedade possui macro e micro poderes de regularização, nos quais os primeiros não são mais importantes que os segundos, mas sim os segundos dão suporte aos primeiros. Quando se utiliza a Qualidade de Vida no Trabalho deve-se ensinar o

funcionário pautado pela positividade ao invés de repressão, para que esse busque o aperfeiçoamento em seu modo de ser....


Similar Free PDFs